terça-feira, 16 de junho de 2015

rompendo chão / Mundo véio sem tranca.

MUNDO VÉIO SEM TRANCA.

E muitas porteiras. Vou de ônibus até Itutinga e de lá continuo a pé até Carrancas. Mas é domingo e o circular só vai até Itumirim. Então vou com o circular, desço no trevo de Macuco e acabo de chegar de carona. Ou vou andando. Se atrasar e não chegar antes do escurecer, acampo na estrada. Para isso, levo a casa nas costas, 2,5 Kg a mais. Mas poderia iniciar a caminhada em Rosário ou ficar dormindo no hotel em Lavras. E se eu ficasse curtindo uma praia no Capivari, a meio caminho? Ou improvisasse um anzol e uma linha num bambu, cujas moitas estão por toda parte? É possível colher minhocas com a mão, no brejo beira rio. Ligo a internet móvel ou economizo? Vale a pena ver as últimas notícias? Nego ajuda ao espertinho que perdeu a carteira e quer 8,50 pra voltar pra casa, porque sou andarilho e estou com o dinheiro contado. Incrível como pululam esses tipos nas rodoviárias. Mas abro o Google maps pra mocinha bonita que me pergunta se sei onde tem um mapa. Ela me pergunta se conheço algum lugar bonito pra se ir, está viajando de carona pela BR. Ela quer aventura, mostro-lhe a mochila. Mas ela só aceita carona na BR. Só que aqui não tem BR, aqui tem MG. Sendo que sou SP, mas posso trabalhar com outras letras do alfabeto. Digo que estou a pé, ela tira os trem.  E, afinal, há um ônibus  às 9h45 pra São João Del Rei, que passa em Itutinga. Mais uma etapa viabilizada. Amanhã a gente planeja o depois de amanhã, no hotel em Carrancas, antes de dormir. São Vicente ou Madre de Deus? Só o Rio Grande que não sai do lugar. Represas. Não corre mas sobe ou desce. Pulsa. E o caipira a cismar.

ROMPENDO CHÃO.


Sol, suor e solidão. E subida. E sanduíche. Sou uma máquina de andar. Tenho pé de ferro. E um Kompressor dentro do peito. E possantes ventiladores também, embora não muito confiáveis, como esses fabricados na China. De vez em quando engripam. Pés de ferro, como aqueles usados pelos sapateiros. Em minha casa havia um. Nem sei se ainda há sapateiros hoje em dia, quanto mais pés de ferro. Não me refiro aos operários das fábricas de sapatos, é claro. Só sei que os pés de ferro são insensíveis e eternos, embora os olhos sejam míopes e os ouvidos precários. O coração, os pés, e os pulmões – enquanto funcionam –, compensam os joelhos de plástico de Bangladesh. O chapéu de palha compensa a calvície. Os olhos e os ouvidos estão com os componentes capengas e as pilhas fracas, tudo fabricado em Formosa. Dentro da cabeça tenho um chip coreano. Dá pro gasto. Cheiros e gostos são frescuras que não entram no cardápio do andarilho. Seus captadores são rudimentares, feitos a canivete. Uma máquina bem rodada: dois terços já se foram. O agadê da memória é do mais fundo quintal paraguaio. Dois terços já? Mas tenho os pés de frio e bruto e eterno aço. E um Kompressor dentro do peito. Alemão.

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