quarta-feira, 17 de junho de 2015

GUAPÉ À BEIRA MAR. Interior de Minas...

GUAPÉ

Praia de argila no Mar de Minas. Lago baixo, por causa da seca. Próximo a Guapé MG.

Cheguei na beira do porto árido de árvores e areias, de argilosas praias. A balsa deu meia volta me deixando a ver navios imaginários. Guapé do outro lado, por causa de um minuto de atraso eu teria de esperar a balsa ir e voltar. A cidade de Guapé, contra a vontade, pontificando a península artificial que apontava na margem oposta, arredada que fora quando da inundação do mundo. O mundo de água e ar e argila e nenhum cuitelo.


Guapé ficava na beira do Rio, havia uma ponte para unir as margens. É incrível como a caboclada gosta de uma baixada, de uma beira de rio. Ninguém constrói a casa lá em cima, no morro. Toda cidade ou povoado fica no vale. Acho que por causa da facilidade do acesso à água. Aí veio Juscelino e inventou de construir uma barragem enorme, para represar o rio. Juscelino, com sua mania de desalojar os acomodados. Os funcionários públicos federais, com a mudança da capital do Rio para o nada do planalto central.

 Os caboclos ribeirinhos, com seus pitos e suas violas e seus ranchos de pau a pique e seu centenário conformismo, com a inundação de suas terras. Guapé foi inundada, o governo construiu outra cidade mais pra cima. Por isso a igreja tem arquitetura moderna – será que é do Niemeyer? esse ideólogo de igrejas tão lindas e tão claras onde até se esquece de rezar -  e as praças e as ruas têm um traçado muito diferente das outras cidades próximas.

 O sertão virou mar em 1963 e as turbinas hidrelétricas começaram a girar em 1965. Minas finalmente ganhou um mar. Muita gente desgostosa deixou a região. Muitos fazendeiros se negaram a vender as terras ao governo (indenização). Para eles, havia no mundo uma única lógica na transação de terras. A lógica da propriedade privada. Não queriam vender, não estavam interessados no negócio. Até que a água subiu, coisa de Deus, e o mundo de muita gente submergiu, como se fosse o Dilúvio. Entraram na Justiça, houve suicídios, muitos se mudaram para Pratápolis. 

Onde havia a ponte, hoje há a balsa, operada gratuitamente pela operadora da barragem. E a cidade é sem graça. O rio passava e o mar agora fica parado no meio do território do município, algo pouco lógico, considerando que esse rio, uma centena de quilômetros abaixo, divide dois estados. E considerando o costume de usar grandes acidentes naturais como limites administrativos intermunicipais. 

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