sexta-feira, 26 de junho de 2015

O grande rio que é o Rio Grande de mineiros e paulistas em comum.

Cachoeira no Rio Grande, entre Santo Antônio do RG(município de Bocaina de Minas) e a nascente, cerca de 15Km acima.
O RIO GRANDE.
Sempre tenho a impressão de que o Rio Grande só é conhecido localmente e, ainda, sem que os locais lhe deem a devida importância. Os mineiros do alto Rio Grande estão entretidos demais com a exuberância da Mantiqueira e seus picos e vales e espigões e a profusão de cascatas de diversos tamanhos e origens;  com a riqueza da fauna e da flora da mata atlântica forçosamente preservada nas pirambeiras. E afinal, ali, o rio ainda é jovem e qualquer boa tora de araucária ou eucalipto derrubada sobre seu corpo faz uma pinguela. Duas toras e algumas tábuas fazem uma ponte. Os fazendeiros vão e vêm de uma margem à outra por conta própria e o gado passa no vau. E os poucos turistas que por ali se aventuram vão em busca do clima de montanha e querem distância de água, por causa da baixa temperatura – do ambiente e da água. Sem contar que o rio, ali, entre vales profundos e arborizados varjões, só se vê de perto, quando estamos sobre ele, quando temos de transpô-lo.
Meu anfitrião na pousada de Santo Antônio do Rio Grande, nascido na região, não sabia que, mais abaixo, o Rio Grande divide os estados de SP e MG. O povo da região não tem noção da magnitude que o rio adquire lá longe. E o rio corre no sentido sudoeste-nordeste, como o Paraíba e o Preto, como se fosse apenas mais um.
Até que em Piedade do Rio Grande ele dá uma guinada à esquerda e descamba resoluto de leste para oeste, até encontrar-se com o Paranaíba, nos limites de Mato Grosso do Sul. Ali assume a denominação de Paraná, dá outra guinada à esquerda e se dirige para o sul, indo encontrar o Atlântico lá na Argentina. Se o caipira do sul de Minas soubesse que aquela aguinha banha Paraguai, Uruguai e Buenos Aires, talvez olhasse o rio com mais consideração.
Já os mineiros do médio curso – Boa Esperança, Lavras, Passos, e dezenas de pequenas cidades -, bem como os paulistas do norte e o povo do triângulo mineiro, conhecem o grande rio, mas estão entretidos demais em ganhar dinheiro na pujante economia regional de terras férteis, relevo ameno e crescente industrialização. Os caipiras  de Franca ou São José do Rio Preto, do lado paulista, e os boiadeiros de Uberaba e Uberlândia, do lado mineiro, são pragmáticos demais para se permitirem veleidades além do próprio quintal.

Sem contar que o rio, em seu médio e baixo curso, não existe mais. É quase todo água parada, numa sucessão de onze lagos e curtíssimos trechos de água corrente entre eles. E os poucos turistas ou forasteiros que se aventuram por ali estão mais interessados em tomar cerveja e comer churrasco nos confortáveis ranchos de beira-rio e brincar ou pescar nos mares de água doce. Quanto à origem daquelas águas paradas, satisfazem-se com a verossímil explicação de que caíram do céu. 

2 comentários:

  1. Sou de Franca e sempre tive uma admirição quase mística com o Rio Grande.
    Seu blog está esclarecendo várias dúvidas, sobre o rio, que tentei tirar a vida inteira. Muito obrigado.
    Passei boa parte da minha infância e da adolescência mergulhando em.suas águas. Um dos motivos que me levou a estudar Geografia, foi minha paixão por este rio, no sonho de pesquisá-lo um dia.
    Você conseguiu chegar na nascente?
    No mês que vem vou até Bocaina e queria ver se consigo chegar.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caro geógrafo de Franca SP,  toda nascente de rio é incerta, polêmica, difícil de definir. Eu cheguei num brejo lá em cima, num dos pontos mais altos da serra. Acho que no tempo das águas (chuvas) é aquela a nascente. Mas quando eu fui tava seco e o brejo ficava por lá mesmo, não escorria. Acontece que toda região de nascente tem muitas, não distantes uma da outra. Na serra, a confusão aumenta ainda mais, por causa de inúmeras gargantas e pequenos vales, que vão se juntando à medida que vão descendo. O mais correto é pegar um guia da região e ir com ele. Eu, como andarilho solitário, preferi me aventurar sozinho. Se eu fosse com guia, não poderia ter dormido lá em cima, como fiz. Mas lá em cima é campo aberto, após trilha na mata. Se o cabra vacilar, pode não encontrar a entrada da trilha de volta, na transição do campo para a mata. Se bobear, pode se perder lá, e a coisa pode ficar feia. Abraço.

      Excluir