sexta-feira, 26 de junho de 2015

Critérios para se determinar a nascente de um rio.

Rio Grande visto da ponte de ferro da estrada vicinal entre Bom Jardim e Liberdade, MG
TALVEGUE. A PALAVRA-CHAVE PARA SE CHEGAR À NASCENTE DE UM RIO.
De jusante para montante, siga o talvegue mais fundo... Talvegue. Gosto dessa palavra. Os engenheiros, vez ou outra, escrevem bonito. Pra compensar feiuras como montante(nascente) e jusante(foz). Talvegue é a parte mais funda do vale. É a linha onde acaba a descida de um lado e começa a subida do outro lado do vale. Como, no fundo do vale, normalmente corre um rio, o talvegue é a parte mais funda do rio.
Pois o talvegue é a palavra-chave para se determinar a nascente de um rio. Como se sabe, um rio se acaba quando deságua num outro maior ou num lago ou no mar (nunca canso de lembrar o caso do Rio Mendoza, na Argentina, que se vai exaurindo até se acabar por conta própria, por falta d’água). Por outro lado, o rio, até sua foz, recebe as águas de outros rios menores. Para se determinar a nascente de um rio, devemos, a partir de sua foz, seguir o curso inverso, sempre pelo rio principal, até sua nascente.
O problema é saber qual é o rio principal e qual é o afluente, em casos de rios de magnitude semelhante. Vários critérios poderiam ser adotados. O rio mais extenso daquele ponto até a respectiva nascente; o rio que drena a maior bacia hidrográfica; o rio mais largo; o rio com maior vazão naquele ponto. Ou o rio de menor cota de talvegue. É o critério adotado pelo IBGE. Ou seja, o rio mais fundo. Tem lógica. Um exemplo é o encontro entre os rios São Francisco e Samburá: o Samburá tem um talvegue dois metros mais baixo que o São Francisco. E tem maior vazão e maior bacia hidrográfica e maior distância até a respectiva nascente. Essa constatação fez com que os técnicos da CODEVASF determinassem que a nascente geográfica do Rio São Francisco é a do Rio Samburá, no município de Medeiros MG (Anais XI SBSR, Belo Horizonte, Brasil, 05-10 abril 2003, INPE, p. 393-400).
Intuitivamente, entendemos que o rio mais caudaloso – de maior vazão – tem um leito mais fundo que o rio menos caudaloso(suponha a água cavando o leito por milhões de anos, quanto mais água, maior a escavação). Podemos intuir também que quanto maior a área da bacia que direciona as águas para o rio, maior a vazão desse rio. E que, quanto maior a área da bacia, mais distante a nascente. Portanto, é um bom critério esse do IBGE, de que o rio principal é aquele cujo talvegue está mais baixo em relação ao nível do mar.  
Mas há casos tão complicados que é mais fácil matar os dois rios que se encontram e fundar um terceiro, fruto da junção dos dois. É o caso do Rio Paraná, que nasce da junção do Rio Grande e do Rio Paranaíba: rios enormes na foz; difícil saber qual o principal, no olhômetro. E agora, mais difícil ainda, porque o local encontra-se inundado pela represa de Ilha Solteira. Caso semelhante é a junção dos rios Paranaíba e Corumbá, nas proximidades de Itumbiara GO (é possível que o Corumbá seja o rio principal). Outra junção que pode trazer surpresa é a do Rio Corumbá com o Rio São Bartolomeu. É possível que o São Bartolomeu seja o rio principal. Se minhas suposições estiverem corretas, o Paranaíba deveria se chamar São Bartolomeu. A bacia hidrográfica do São Bartolomeu-Corumbá-Paranaíba é maior que a do Rio Grande. Logo, é possível que ele seja o rio principal. Se isso for verdade, o Rio Paraná deveria se chamar Rio São Bartolomeu. Da minha parte, já estou querendo mudar o nome daquele rio que banha Buenos Aires!

Afinal, andei mais de 400 Km, durante 15 dias, pra descobrir que os rios têm nascente histórica e nascente geográfica. E que a nascente que consta nos mapas de boa parte dos principais rios está errada. 

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