MADEIRA EM BOM JARDIM.
O desenvolvimento econômico de Bom Jardim deslanchou
nos últimos dez anos, com a chegada das madeireiras. Tudo gente grande, Saint
Gobain, MRS, Votorantim. As terras eram baratas, compraram quase tudo,
reflorestaram com eucalipto ou pinus. O eucalipto se destina a gerar
bioenergia. É transformado em carvão em carvoarias artesanais – passei ao lado
de uma – ou industriais, como a da Saint Gobain na beira da estrada a 15Km da
cidade.
Eles chamam de colheita aos serviços de derrubada da
árvore e transporte do tronco até a indústria, seja a fábrica de celulose, a
carvoaria ou a de móveis. Num dia de colheita intensa, em que as enormes carretas
estão transportando a madeira pelas estradas, é melhor ficar longe. É o pior
dos mundos para o andarilho. E creio que também para os moradores locais que
nada têm a ver com o negócio. O caminhão enorme toma toda a estrada roncando
alto e levantando uma nuvem de poeira. É uma temeridade para quem circula em
seus ínfimos carrinhos.
Quem me informou essas notas foi o funcionário da área
de logística da Saint Gobain, que me deu carona até Bom Jardim. Eu havia
caminhado 50Km desde Santana do Garambéu. Escurecia e ainda faltavam duas horas
para eu chegar à cidade. Mas já estava cogitando percorrer os 10Km no escuro,
pois não encontrava bom terreno para acampar. Eu subia e descia e, a margear a
estrada, sempre o mesmo descampado de agreste e irregular pastagem natural. Ele
parou sem que eu pedisse. Disse que já havia me encontrado ou ultrapassado
várias vezes durante o dia, enquanto trabalhava nas viaturas. Eu aceitei,
apesar da determinação que fizera lá em Piedade. Nunca matei ninguém...
LIBERDADE, MG.
Liberdade, 5 mil habitantes, distribui-se por dois
morros, como dois seios. Uma igreja em cada cume, ambas igualmente imponentes.
Mas a zona sensível da cidade está lá embaixo, onde passa a MG. A rodovia
vicinal transforma-se em rua do comércio principal e as igrejas ficam lá em
cima, mal rodeadas de residências. E eu, pouco esperto e descansado, porque
caminhara apenas 22 Km, escalei os dois montes antes de descobrir que o que me
interessava estava lá embaixo: a zona comercial e seu hotel e restaurante e padaria.
O Hotel Central foi o de melhor padrão que usei
durante toda a viagem. Mas não o mais caro. 50 reais, o mesmo que paguei nas
pousadas simples de Santo Antônio do Rio Grande e Mirantão. A dona é mulher de
fazendeiro. Não precisa muito da renda do negócio. É uma mineira de pouco mais
de 30 anos, lá de perto da nascente do rio, me informou. Gosta do serviço,
disse-me que hóspede seu não sai sem café da manhã – não importa a hora -,
quando lhe informei que sairia bem cedo no outro dia e pedi o horário em que
começaria a ser servido. Seu bolo de fubá e seu pão de queijo fazem jus à fama
da terra. Não sei seu nome, não perguntei, esse meu defeito de ligar pouco para
as individualidades alheias. É uma contradição, porque muito me interessa os
mundos alheios.
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