segunda-feira, 22 de junho de 2015

A polêmica das nascentes e das fozes dos rios.

Faz sentido falar em nascente ou foz, quando a água não corre? Aqui, abaixo da barragem de Furnas, ela corre.
FOZES E NASCENTES.

Fozes. Esquisito esse plural, não? Venho seguindo esse rio, pretendo desvendar sua nascente. Não seria capricho demais? Curiosidade demais? Falta do quê fazer? Obsessão patológica, com alguma punição ou decepção ao final, como costuma acontecer com quem segue uma mulher bonita até desvendar sua nudez? Faz sentido essa persistência em presenciar os primeiros respingos ou os suspiros finais de uma entidade viva? Porque o rio é uma entidade com nascimento, vida e morte.
E o nascimento de um rio é um evento natural assim tão simples, como pretendo? Em regiões serranas a água brota da terra com muita facilidade. Mas quase sempre em buracos fundos e quase inacessíveis por causa da densa vegetação. É o lençol freático que aflora por causa de abruptos desníveis da  exposta rocha viva. A camada de terra funciona como selante da superfície. Na montanha, as águas subterrâneas que têm as rochas como condutos, de repente, espiam o céu, sem qualquer barro a obsedar-lhes. É a mina. Que pode ser tão tênue e apenas umedecer e formar um brejo. Ou pode jorrar inequívoca, de dentro do oco da fenda da pedra.
E qual mina ou merejo é a nascente do rio, se há uma infinidade delas nessas úmidas cabeceiras? Ora, é simples: é aquela em que um agente turístico afixou uma placa! É um dilema que não existe para os rios formados por descongelamento de geleiras, como o Amazonas. O gelo está ali esparramado na montanha toda, vai derretendo, todos sabem, a água escorre, forma o rio. Enquanto a água que brota da rocha é desconhecida. Sua vida pregressa é um mistério, embora limpa, sem dúvida... Mas há polêmicas mais grossas. Como a de que a nascente do São Francisco não é aquela da Serra da Canastra, mas a do Rio Pará (ou até mesmo do Paraopeba, vizinho), lá perto de Barbacena, na Serra das Vertentes(os técnicos da CODEVASF falam em nascente histórica e nascente geográfica e dizem que esta é a do Rio Samburá, no município de Medeiros MG cfe. Anais XI SBSR, Belo Horizonte, Brasil, 05-120 abril 2003 p. 393-400).
 E quem foi que disse que o grande rio que se encontra com o Grande para formar o Paraná nasce ali do outro lado da Serra da Canastra? Pelo que ouvi e vi e li, não existe polêmica sobre a nascente do Rio Paranaíba. Estou iniciando a polêmica agora. Sua nascente não seria aquela do Rio Pipiripau, a nordeste de Brasília que, segundo os mapas, forma o São Bartolomeu, que deságua no Corumbá, muito mais distante? Ou a própria nascente do Rio Corumbá, lá no pé da Serra dos Pireneus, no fundão de Goiás? (efetivamente, os lambaris do Lago Paranoá, em Brasília, podem nadar até Buenos Aires). Uma canetada equivocada de um cartógrafo desatento, no tempo em que os mapas eram traçados com base em informações de viajantes, e eis tantos interesses transferidos daqui pr’ali, se é que alguém além de mim se interessa por nascente de rio...

Determinar a foz seria mais simples. Os grandes rios costumam desaguar no mar, suas fozes são enormes, estão ali pra todo mundo ver...ops! A coisa não é tão simples. Vai ver a foz do Nilo, naquele enorme e intrincado delta. E a foz do Amazonas, que pode ser mais pra lá ou mais pra cá, dependendo da força das águas do mar e do rio quando se encontram. E há as fozes que foram mortas pelo homem. Como a foz do Rio Grande, submersa pelo lago da barragem de Ilha Solteira.  Mas há rios que não tem foz. A água não deságua em lugar algum. É o caso do Rio Mendoza, na Argentina. O rio nasce do degelo dos Andes, ao pé do Aconcágua, e desce para a planície árida, banha todas as ruas da capital da província, através de canais artificiais, e vai irrigando parreirais, hortas e quintais até se exaurir no nada. Nonada...

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