ESTRADAS EM
TERRA OU ASFALTADAS?
Ponte sobre um afluente do Rio Grande, perto de Sousa. |
Qual a
melhor para caminhar? Depende. Em geral, as não pavimentadas são melhores, mas
não por esse motivo em si. Correr na terra é melhor que correr no asfalto, por
causa do menor impacto na pisada do corredor, fator importante para sua saúde.
Mas para o andarilho, o impacto é mínimo e essa diferença é insignificante. Outros fatores, como a
intensidade e a velocidade do tráfego de veículos e a regularidade do piso são
mais importantes.
O pior cenário para o caminhante é uma estrada em terra mas
muito bem conservada, que liga dois pontos de grande atração de veículos. Passei
por isso entre S.J.B.do Glória e a MG-050, 20 Km paralelos à margem norte do
rio. Os veículos, muitos caminhões, atingiam facilmente 80Km/h e levantavam um
poeirão. Horrível. O melhor cenário
seria uma estrada asfaltada que liga a vila a 4 ou 5 fazendas. Sem carretas e
ônibus, cruzaríamos com meia dúzia de automóveis apenas no prazo de duas horas.
Em igualdade de condições de tráfego e de paisagem, é melhor caminhar no
asfalto, por causa da ausência de poeira e da maior regularidade do piso.
Porém, na prática, isso nunca acontece. Estrada asfaltada significa muitos
carros passando em alta velocidade. Se for uma rodovia inter-regional, pior,
por causa do grande número de caminhões e da maior pressa dos motoristas. Sem
contar o traçado mais reto e menos sujeito à vida local – a grande diferença
das estradinhas locais em terra. Nesse sentido, o trecho mais bucólico em que
passei foi entre Bom Jardim e Liberdade, uma estradinha estreita e paralela ao
Rio Grande, 22 Km, construída pelos escravos para passar trem. Só que o projeto
parou no meio e virou estrada comum, em terra, onde não passa ninguém.
AS ESTRADAS
VICINAIS.
Vicinal de
vizinho. Aquelas estradinhas que saem da zona urbana em direção às chácaras,
sítios e fazendas e normalmente morrem lá pelo final do território municipal.
Quase sempre em terra, precárias, muitas com mata-burros e porteiras, vão
formando uma malha viária para atender as necessidades locais de acesso. Assim,
são comuns os cruzamentos e bifurcações e derivações. Porém, quase sempre,
essas malhas viárias locais se interligam com a malha viária local do município
vizinho. Essa ligação única e pouquíssimo frequentada é o maior desafio do
andarilho que se aventura a sair de uma cidade e ir até a outra por esse
caminho e não pela rodovia asfaltada que liga os dois polos urbanos.
Eu sempre
me aventuro por esses caminhos. Faço o levantamento prévio nos mapas do Google
e levo anotado num papel(só descobri no último dia que o GPS do celular mostra
sua localização mesmo sem sinal de internet). O problema é que, em geral, não há placas indicativas e é
impossível anotar numa simples folha a enorme quantidade de variantes, nem as
fotos dos satélites permitem isso. Então saio na fé e na intuição.
A orientação
de sempre optar pela variante mais batida às vezes nos faz dar com os burros
n’água. Nessa viagem, me perdi duas vezes. No segundo dia, entre Claraval e
Ibiraci e no 13º dia, entre Santana do Garambéu e Bom Jardim de Minas. No
primeiro caso, era uma situação clássica como a descrita acima. As estradas
iam-se apagando, apagando, e cada vez ficava mais difícil decidir entre as
variantes. Até que atingimos aquele caminho único que liga as duas malhas e
onde praticamente não passa ninguém, já que há uma ligação rodoviária asfaltada
para tal. Os usuários daqueles dois últimos sítios, cada um vai para um lado e
o pequeno trecho é usado raramente. Ali é o ponto máximo das nossas dúvidas,
enquanto os caminhos vão-se acendendo novamente, à medida que a nova urbe se
aproxima. É o local de maior cansaço, porque a dúvida gera cansaço. A dúvida e
o desgosto. E muitas vezes coincide com o espinhaço de uma serra ou as
pirambeiras de um vale – acidentes naturais que costumam delimitar limites
intermunicipais - o que só agrava o
problema. Já no segundo caso, não havia rodovia alternativa. Era uma questão
simples de complexidade viária.
MATA-MOTO.
E
mata-bicicleta e mata-burro. O advento do automóvel no meio rural trouxe a
necessidade de inventar o mata-burro, nas estradas sem cerca que passam no meio do pasto. Há uma porteira em cada divisa de fazenda e descer do carro em cada uma é dose. Tenho alguns leitores
que não fazem ideia do que um mata-burro. Uma vala transsversal de 2 metros de largura e um
metro de profundidade interrompe a estrada. Sobre ela são colocadas no sentido
transversal vigas de madeira ou aço espaçadas entre si 10 centímetros. Têm a
função de impedir a passagem de muares, equinos e bovinos, porque, se o
fizessem, suas patas entrariam entre as vigas e acabariam presos com elas
quebradas. Enquanto isso, o pneu passa tranquilamente. Por isso, ao lado, deve
haver uma porteira para permitir a passagem de cavaleiros e veículos de tração
animal. Só que no sul de Minas não há mais tais veículos, porque as porteiras,
de madeira ou arame, são estreitas, permitindo passar apenas um animal.
Vai dar outro livro. Aliás, já deu :-)
ResponderExcluirÉ. Já deu, se v. quiser chamar o blog de livro. Acho que depois de tudo publicado, vai dar o equivalente a umas 70 páginas de livro.
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